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23 outubro 2009

Metamorfose do pré-conceito


Quero hoje iniciar abordagem direcionada ao que entendo significa pré-conceito, não com base no dicionário, mas na reflexão a que a vida nos leva. Como já tive a oportunidade de ressaltar, a vida terrena me parece ser a metamorfose da alma, através das várias viagens etéreas que fazemos entre a pátria original e as diferentes estações de aprendizado e aperfeiçoamento, dessa mesma alma, espalhadas pelo Universo. Somos, pois, viajantes itinerantes. Chegamos ao planeta terra e o que é o nosso corpo senão limite? Nossa alma necessita desse limite físico, formado de matéria própria para a vivência pontuada por essa mesma espécie de matéria. Temos, no entanto, o sono todas as noites, que nada mais é que a porta de entrada para o etéreo, alcançando, por ele, cada qual a latitude e plenitude capaz pelo maior ou menor apego ao planeta e aos seus bens patrimoniais físicos, de primeiro quilate em beleza.

Imaginemos na orla do mar, noite afora, e talvez alguns de nós até possam ver, vários e vários seres desprovidos do invólucro carnal, a ele ligados apenas por um cordão prateado, e chegando em patamares de diferentes energias, para buscar ou prestar socorro energético em escolas, hospitais, departamentos de assistências várias, enfim em toda gama de verdadeiras cidadelas munidas de infra-estruturas compatíveis com suas localizações e objetivos.

Referi-me à orla do mar porque ali se refazem muitos dos doentes, pelo iodo, e já sabemos que a doença não passa de expressão repetitiva ou fixa de uma ou mais feridas pretéritas na alma, que vem justamente, pela reencarnação, buscar o remédio, que se resume em estudo e aprendizado de sua matéria “curricular” deficitária.

Assim senhores, com muito amor, nenhum de nós aqui chegou como turista privilegiado e sim como lapidador de sua própria gema, no seu polimento necessário, como verdadeira pedra valiosa.

Não há almas cegas, nem deficientes físicas, nem míopes, nem com seqüelas de pólio, nem esquizofrênicas, loucas de qualquer espécie ou com um sem fim de expressões corporais deficitárias. Compreendi, nesse meu caminho de eterna aprendiz, que o corpo apenas expressa, de forma tão limitada quanto ele próprio o é, as feridas da alma.

Para que nos serviria a vida, na riqueza de aprendizado a que somos submetidos, se não fosse para podermos transmitir ou retransmitir o que, de real, conseguimos assimilar dessa escola incrível, mantendo a capacidade de amor viva a cada novo dia, na soma que a troca nos situa como elos de uma só corrente, chamada humanidade.

Entendo mais, ainda, que pré-conceito não é apenas o desconhecimento, por falta da necessária observação, estudo e reflexão, quanto a sexo, raça, credo, estado físico ou cor, mas, sobretudo, conceito pré e falsamente formado quanto ao que estigmatiza uma pessoa, por diferenças sem que se prepondere suas qualidades ou suas dificuldades, de maneira própria e específica, e não genérica à luz do próprio eu.

Trouxe, portanto, um dos professores mais especiais e queridos para deixar, aqui, posto, o respeito pela dignidade de cada um de nós, enquanto seres defeituosos em nossas almas, que detêm, no corpo, o aparelho tutor para suas andanças necessárias à busca da também necessária cura para o ato imperito e pretérito que lhe provocou o ferimento n’alma.

Que voz poderá se levantar para julgar, portanto, cada um de nós, como diferentes, deficientes ou carentes de conhecimento? Talvez por isso Jesus haja dito:- “Que atire a primeira pedra o que estiver sem pecado”.

Não fiquemos, pois, nos pré-conceitos, vamos ao estudo e à reflexão, com alegria, pois esses sim são capazes de nos fazer dignos de construir a verdadeira humanidade.

Encontrei belíssimo tema, que nos fala ao coração e à mente, porque não importa se cadeirante, ou portador de qualquer outra deficiência, ou não, o princípio da necessária metamorfose não está no casulo da borboleta e sim no seu próprio vôo, e a todos nós, tão deficientes, não deve importar que tipo de expressão, em nós, está a contrariar os padrões postos por um ciclo histórico social, tão limitante e limitado quanto o próprio corpo.

Não estou aqui a defender quaisquer bandeiras que não sejam as que derivem de uma história de muito além, que por não a conhecermos, pelo dom do esquecimento, jamais nos permitirá julgar, mais ainda porque nosso destino, acima de qualquer outro, é a estação do amor.

Justamente, pois, pelo momento em que vivemos, observando a mutação de valores e, sobretudo, as diferentes formas de expressão de amor que surgem entre muitos jovens e não jovens, que, por certo, algo têm a aprender ou a ensinar com isso, é que à leitura dos sinais exteriorizados ainda não podemos e nem devemos concluir.

Fiquemos, pois, com Chico Xavier, que assim nos ensinou:
"Não vejo pessoalmente qualquer motivo para criticas destrutivas e sarcasmos incompreensíveis para com nossos irmãos e irmãs portadores de tendências homossexuais, a nosso ver, claramente iguais às tendências heterossexuais que assinalam a maioria das criaturas humanas. Em minhas noções de dignidade do espírito, não consigo entender porque razão esse ou aquele preconceito social impediria certo numero de pessoas de trabalhar e de serem úteis à vida comunitária, unicamente pelo fato de haverem trazido do berço características psicológicas e fisiológicas diferentes da maioria.”

”Nunca vi mães e pais, conscientes da elevada missão que a Divina Providência lhes delega, desprezarem um filho porque haja nascido cego ou mutilado. Seria humana e justa nossa conduta em padrões de menosprezo e desconsideração, perante nossos irmãos que nascem com dificuldades psicológicas?" (Publicada no Jornal Folha Espírita do mês de Março de 1984).

E quando perguntado como se explica o homossexualismo à luz da Doutrina Espírita, disse: "
Temos tido alguns entendimentos com espíritos amigos, notadamente com Emmanuel a esse respeito. O homossexualismo, tanto quanto a bissexualidade ou bissexualismo, como assexualidade, são condições da alma humana. Não devem ser interpretados como fenômenos espantosos, como fenômenos atacáveis pelo ridículo da humanidade. Tanto quanto acontece com a maioria que desfruta de uma sexualidade dita normal, aqueles que são portadores de sentimentos de homossexualidade ou bissexualidade são dignos do nosso maior respeito e acreditamos que o comportamento sexual da humanidade sofrerá, no futuro, revisões muito grandes, porque nós vamos catalogar do ponto de vista da Ciência todos aqueles que podem cooperar na procriação e todos aqueles que estão numa condição de esterilidade. A criatura humana não é só chamada à fecundidade física, mas também à fecundidade espiritual.Quando geramos filhos, através da sexualidade dita normal, somos chamados, também, à fecundidade espiritual, transmitindo aos nossos filhos os valores do espírito de que sejamos portadores."

"Não nos referimos aqui aos problemas do desequilíbrio, nem aos problemas da chamada viciação nas relações humanas. Estamos nos referindo a condições da personalidade humana reencarnada, muitas vezes portadora de conflitos que dizem respeito seja à sua condição de alma em prova ou à sua condição de criatura em tarefa específica. De modo que o assunto merecerá muito estudo. Nós temos um problema em matéria de sexo na humanidade que precisaríamos considerar com bastante segurança e respeito recíproco.Vamos dizer: se as potências do homem na visão, na audição, nos recursos imensos do cérebro, nos recursos gustativos, nas mãos, na tactividade com que as mãos executam trabalhos manuais, nos pés, se todas essas potências foram dadas ao homem para a educação, para o rendimento no bem, isto é, potências consagradas ao bem e à luz, em nome de Deus, seria o sexo em suas várias manifestações sentenciado às trevas?" (Entrevista concedia à extinta Rede Tupi de Televisão, São Paulo, ao programa "Pinga Fogo", em 28 de julho de 1971).

Postado e criado por Márcia Vilarinho
Textos de Chico Xavier, transcritos.
São Paulo (SP), 23/10/2009

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "...o princípio da necessária
    metamorfose não está no
    casulo da borboleta e
    sim no seu próprio vôo,..."
    Amiga, adorei o texto!
    Oxalá muito o leiam!
    Uma reflexão, um ensinamento,
    um aprendizado necessário
    nessa excusão por aqui.
    Excelente criação sua!
    Escorreita linguagem e profícua
    inserção das palavras do grande Chico.
    Parabenizo-a por isso.
    Vc escreve muitíssimo bem!
    Sou sua leitora, além de admiradora, viu!
    Continue plantando.
    O terreno, nem sempre é árido e alguma
    semente vingará, melhorando o porvir.

    Beijo grande
    da Genaura Tormin

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