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04 abril 2010

Quando chega o outono

























Chove em mim, dentro de mim chove, e minha alma encharcada se despede da estrada primavera, como triste hera, desse mesmo meu caminho, ora em bifurcação.

Chove em meu coração, na despedida do ninho, dos filhos, outrora tão pequenininhos, ora pássaros em revoada total.

Chove em meus olhos, pra fora, um pranto ardente, impedindo que a represa me sufoque.

Novos tempos, nova vida, novos valores, novos aprendizados...e eu eterna aprendiz no caderno de caligrafia da vida sou obrigada a compor um novo e inédito "abc".

Recomeço, reconquista, ativista, solitária e perdida, sem semáforos, só vielas, cadê o meu velho caminho conhecido em seu palmilhar?

Terremoto é assim que te chamo tempo, idade, a solapar a minha base, a consumir meus vestígios.

Fostes primeiro, partistes, e o pranto derradeiro se estende por minh'alma adentro até onde o posso alcançar, no etéreo após a morte, ambos a soluçar a saudade que dói dia após dia...intermitentemente.

Não te perdoarei jamais por teres aqui me deixado, assim tão nua de você.

E agora se vão eles, primeiro a filha mais velha, novo lar, novo aconchego, novo núcleo familiar e na sequência o mais novo, nova lida, nova vida, novas chances...novo até breve com gosto de adeus.

Adeus primavera, adeus dias de alegria e brincadeiras, onde a família estava inteira, sem que eu como agora com as fotos apenas tivesse que conversar.

Essa saudade bandida que carrega o presente como simples vendaval, sem que possamos prender o tempo precioso no abraço mais gostoso que, um dia, já pudemos dar.

E no presente...o caminho à minha frente...mostra-me o outono latente...sozinha a passar, pelas folhas dessa trilha, cor vermelha, já tão secas, mas sem perderem a beleza da natureza em seu pulsar.

E enquanto chove, pavorosamente, em mim, chega você...assim também tão simplesmente, nesse seu ir e vir, nesse ficar.

Mais uma vez com a emoção aos saltos e os olhos a viajar, na ansiedade de entre tantos de longe já te avistar.

E nessa distância havida, eu aqui, você acolá, chega-me o velho retrato da saudade a demorar.

No entanto, no teu abraço, o meu riso, e pronto.

A chuva vai-se embora. Novo sol já a brilhar.


Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

3 comentários:

  1. Eu simplesmente adorei!
    Márcia que soberania na escrita. Comando de sentimentos entre todas as estações.
    Esta é nossa trajetória amiga , o tempo aliado das coisas futuras.E nós aqui para guardar saudades e colorir o que ela nos entrega em bocadinhos.
    Nossos filhos içam vôos num ir e vir com dimensões da vida. É a trajetória que um dia seguimos nós.
    A chuva vai o sol vem e a sabedoria da mulher aumenta e ganha asas.
    Bjinho linda

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  2. A chuva vai-se embora. Novo sol já a brilhar.
    Diz tudo...

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