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14 setembro 2009

Brisa e Ventania



Até o último momento a partida estava definida. Oportunidade. Alegria. Novidade. Mudança que quase se realiza, por plenamente formulada, formada, planejada, verificada e pronta, que ainda assim não permitiu deixar ao léu as situações novas que, surgidas num repente, se fizeram prioritárias.

Juntamente com tais situações eclodiu, ainda, o amor, forte, corajoso, meigo, pleno, consciente e total da ave que recolhe as asas para proteger o ninho, frente às intempéries do tempo, que me tornam brisa.

Minha jangada sairia ao mar. A alegre metade de mim se escondia da outra metade triste. Com a partida ficaria aqui o coração em plenitude, num sonho maior disseminado e perdido, mesmo sem antes ser vivido.

A jangada ao mar significa, para mim, a alma frente à amplidão que o mar expressa, traduzindo infinitas possibilidades de realização, mesmo que ao longe esteja a linha do horizonte, pois quando em mar aberto, suas laterais transcendem ao infinito e, nesses momentos, subjetiva e surrealista, sou ventania a varrer quaisquer impedimentos.

Sempre amei o mar. Ele é parte de mim, quando no movimento interno do meu corpo o sangue lhe imita o ir e vir, mantendo o universo do meu eu em equilíbrio e a superfície da minha pele transformada em orla sempre beijada pelas ondas da energia que cria, da mesma forma, o pensamento e a emoção.

Como ave recolhi as asas e impedi o movimento que me levaria para longe do meu coração, num procedimento racional pleno, produzido, elaborado, até na menor partícula de cada ato, porque o racional era o melhor timoneiro que conhecia até então.

A metade triste se fez, então, alegria, ao reconhecer como base fundamental da minha própria vida, da razão de ser, de estar, de vir, de vir novamente e ainda voltar, o ninho cuidadosamente construído. Mais ainda, porque deixaria, aqui, também o sonho, desses difíceis de sonhar, levando apenas a expressão belíssima de suas cores, para sempre, eternamente em mim.

Sem partida, me tornei, novamente, inteira e permaneço brisa e ventania, em busca de fazer tudo o que será um dia. Não trabalhará mais só, portanto, em mim, o timoneiro.

Márcia Vilarinho
S.P. 31/07/2009




Um comentário:

  1. Adorei!
    Vc escreve muito bem!
    Lindas metáforas!
    Sentido pleno e belo.
    Parabéns, moça!
    Beijo grande da
    Genaura Tormin

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