Translate

23 março 2010

MULHER DE VANGUARDA

Hoje...sem querer...buscando não querer...assisti a um noticiário que relatava o expressivo percentual de mulheres que vivem sozinhas....e interessante o depoimento coincidente da maioria delas...que declarava sinceramente a alegria.

Alegria por não ter um comandante...muitos deles no leme...tão mandantes...a cozinha, a roupa, o trabalho fora e dentro e o cansaço gritante, mental, o controle estilhaçante, também do corpo... a gritar...e às vezes urrar de fome.

E aí me ocorreu igualmente declarar...a minha vanguarda, que...não sei se o repórter disse dez milhões de mulheres, isso no Brasil, mas também não importa muito....o mais saboroso e pitoresco da história foi saber que sou de vanguarda e há anos, independentemente de minha condição física, defendo a prática da sanidade...ser e ser...cada qual sendo respeitado e amado como...ser e ser...exatamente isso, vocês conseguem me entender?

Quando fiquei viúva...foi-se, na verdade, o mais pleno companheiro...e custou pra me acostumar a não ouvir os seus passos e o barulho do chaveiro, desde a garagem... no silêncio... quando ele retornava do trabalho...

E já se fazia rápido o meu acostumar...rotineiro...a janta pra esquentar...o bife pra fritar...o cheiro forte do alho...o sentar juntos e conversar....mas ai ai ai...a louça pra lavar...no fim de um dia exaustivo...muito pouco pra aproveitar da noite...em que quantas vezes não sei dizer se havia lua a brilhar.

Foi difícil a cama vazia...o vazio da cama...o vazio da alma...da calma...em mim, presente, dolente, doído, a pendurar nos meus olhos o pranto sorrateiro...o choro verdadeiro e a saudade sem fim.

E o tempo foi passando e em metade de mim tive que ser inteira no sustentar...isso...literalmente sustentar...porque sustentar envolve todos os sentidos da sustentação propriamente dita...dos filhos...da vida... do corpo e da alma...vendo-os crescer e sabendo que eu podia, e sabendo que eu iria...como fui...vi e venci...cheguei...retornei...estou aqui...semi sozinha...e se a saudade que tanto doía e era grande...hoje é um grande completar...os minutos da vida passada...vivida...e vou à sacola do tempo e a abro e encontro somente o tudo de bom que vivi...que vivemos...porque somente o resto é que passou.

Coloco essas recordações tão bonitas ao meu lado e penso...são adornos da minha alma...e seja lá em que horário for...lá vou feliz...sem ninguém pra me cobrar...compor poemas, cantatas, poesias, elegias, crônicas ou textos cheios de magia e encanto e amor, fazendo da vida um verdadeiro acalanto, na alegria de ser só, sem perder a companhia, da vida latente... presente...encantadoramente presente...de cada dia.

Criados pro mundo, no mundo os filhos estão e esta casa é o paradeiro fugaz...capaz...derradeiro...costumeiro...conversas de lá e de cá...trocas de informação...diálogo e....muita emoção...nas saídas...idas e vindas...respeitando o meu jargão...deixe tudo exatamente como bem o encontrou...esse recanto praticamente é a minha praia...meu descanso...meu vaivém...na propriedade do espaço que justamente ganhei...depois de uma lida danada.

E de repente se eu quiser além de fazer poesia...vou cantar a alegria...dançar sozinha rodando os pneus da minha cadeira..ou simplesmente vou porta a fora rumo ao novo rumo, no meu carro adaptado...ao trabalho...ao barzinho...ao cinema...ao teatro...sempre na roda de amigos...e também....vou ao aconhego sem cobranças.... sem mandanças...cada qual no reino seu.

E o amor fortalece e o respeito também...o romantismo reaparece...o sonho...o poder de aconchegar...bem aconchegadinho...fazem de mim, com certeza uma entre tantas das mulheres que conseguem viver...assim...."sozinhas"....sem ter amo nem escravo...deixando falar solto e livre o coração...numa sincera canção de amor...muito maior que o amor a que a sociedade obrigava...na era da clava.

Estou, enfim, uma mulher de vanguarda.... em primavera, outono, verão e inverno...isso tudo ao mesmo tempo...e sou ainda nesse ao mesmo tempo...alegre, triste, sã, insana e...muito bem... feliz...

E as regras na minha vida...todas, agora, eu as escrevo em giz...
-
Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
23/03/2010

5 comentários:

  1. Belo escrever Márcia, como sempre!!! É isso aí, o importante é estar feliz, sozinha ou não. Viver a vida com a alegria de todas as cores. Parabéns!! Boa semana, beijos, :)

    ResponderExcluir
  2. Você realmente me surpreende mulher de vanguarda.
    Admiro sua escrita, seu jeito alegre, sua sabedoria e sua alma forte.Você amiga é toda estações.
    Amei esse teu texto lindo.
    Beijo querida.

    ResponderExcluir
  3. Oi linda, eu vim correndo visitar seu cantinho e amei, assim que eu tiver mais tempo, venho de novo ler tudo qu epuder, estou em vaijem ao Japão, e de aeroporto em aeroporto te leio, querida com certeza.
    com carinho
    Hana

    ResponderExcluir
  4. Bravos, mulher de vanguarda!
    Já li alguma coisa que diz assim: "Viver não é esperar a tempestade passar... é aprender como dançar na chuva".
    Por isto dance, cante, viva... independente das intempéries.
    Abraços.

    ResponderExcluir

Deixe seu comentario. Ele é muito importante para este blog poder crescer.