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07 fevereiro 2010

Quando a vida aprova a vida



Um dia, no colégio, uma criança, com 07 anos de idade, ao brigar com meu filho, disse-lhe: bem feito, sua mãe vai morrer logo, porque ela é paraplégica e você não vai mais ter mãe.


Nesse mesmo dia, em casa, com o os olhos marejados abraçou-me, soluçando, e me contou o ocorrido, pedindo-me para que eu não morresse nunca porque ele não queria ficar sem mãe.

Conversei muito com o meu filho naquele dia, mortificada, porque jamais permiti que a minha paraplegia os alcançasse (tenho mais uma filha também), pois eles poderiam ter outras dificuldades como seres vindos ao “planetinha” para aprendizado, mas essa não. Essa era só minha.


O fato ocorrido, de maneira tão comum entre pequeninos de mesma idade, valeu para que pudéssemos conversar sobre o assunto e dar-lhe a merecida atenção.


No outro dia, na escola, escola tão querida que ficará em nós pro resto de nossas vidas, tamanho o carinho, atenção e dedicação com que sempre nos trataram, expliquei o ocorrido à coordenadora.

Observei que seria importante uma orientação direcionada aos pequenos sobre as diferenças existentes entre pessoas, para que, em linguagem simples, pudessem compreender o que significa a dificuldade motora e outras dificuldades que podem afetar a todos, sem exceção, enquanto mortais, quer sejam elas de que espécies forem.

A escola não apenas se limitou ao que pedira e projetou esse trabalho de orientação para todas as faixas etárias existentes na grade curricular compatível.

Muitos anos após o ocorrido, ontem, dia 06/02/2010, realizou-se o baile de formatura do meu filho, e desde que se iniciou a programação para a formatura ele já me convidara para dançar as valsas com ele e me dissera; “Se eu tenho a minha mãe porque vou dançar com a mãe dos outros?”.


Procurei uma escola de danças especializada para pessoas que usam apoio em cadeira de rodas e não encontrei, não ensaiamos nada e combinamos que na hora a valsa aconteceria.

Ontem, exatamente à meia noite, entrávamos, anunciados pelo Mestre de Cerimônia, na pista de dança, para a comemoração, em gala, da formatura da turma de Administração de Empresa com ênfase em Comércio Exterior, do Mackenzie, matutino, Consolação, ano 2010, e as rodas do meu sapato especial deslizaram pelo salão, onde de mãos dadas com meu filho, dançamos a tão esperada valsa, como se anjos dançadores, ao nosso redor, emprestassem-nos suas asas. Há muito não me sentia tão feliz e plena, pois sempre gostei muito de dançar e, independentemente da paraplegia, danço até sozinha.

Ao final da segunda valsa, minha filha, mais velha, e demais amigas de turma dele se aproximaram e a dança, em meio à alegria mais contagiante, acabou se fazendo em grupo, numa irradiante felicidade.

Ao episódio ocorrido há tantos anos, a minha gratidão eterna à escola pelo trabalho de vanguarda, na conscientização dos pequeninos, que hoje homens já estão.

À vida a minha vibração de amor maior a Deus, pela possibilidade que me ofertou de gerar e ter esse filho tão especial, que veio em missão de alegria, após a minha paraplegia.

Nesse momento, filho, lhe digo: - não me esquecerei jamais da valsa que dançamos, por tudo o que ela representou...e que traduzindo se reduz em....amor...pois onde há amor existe aceitação e não o errôneo termo “inclusão social”.


Que na festa da vida, as luzes de neon (luzes frias) chamadas inclusão social dêem lugar ao sentimento maior que nos acolhe a todos no mesmíssimo aprendizado base...e que é chamado amor, porque somente assim todos terão a oportunidade de crescer, conviver normalmente, apesar das diferenças entre cada um de nós, e acrescer neste mundo inserido num universo bem maior que o limite de nossas vistas pode alcançar.

Beijos a todos e parabéns turma do Mackenzie 2010, em 06/11/2010, pela bela e alegre festa que realizaram. Sorte. Sucesso e...muito amor.

Criado e postado em 07/02/2010
Por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
http://marciavilarinho.blogspot

4 comentários:

  1. Márcia, querida,
    Esse não é texto pra se comentar. É pra ser sentido. E garanto-lhe que independente das lágrimas que lavam meu rosto, lavada está minha alma. Um choro bom, sabe? De vitória juntamente com você que se quer conheço pessoalmente ou profundamente. A vitória de vocês nos trouxe uma lição de força, de trabalho, de perspectivas e acima de tudo uma linda lição de amor.
    Muito obrigada por esta emoção que me lavou inteira neste momento.
    Foi pura poesia o que senti.

    Beijos ternurentos, querida, muita saudade, viu??

    Clau Assi

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  2. Muito bela história de vida e de amor.

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  3. QUERIDA AMIGA...
    QUERIA TER VISTO VC DESLIZAR SUAVEMENTE PELA PISTA, LEVADA PELO TIAGO... RODOPIANDO...
    VC SABE QUE SEMPRE AMEI SEU FILHO... SEMPRE O ACOLHI EM MEU CORAÇÃO...QUANDO ELE CORRIA PRA MINHA CASA... QUANDO BUSCAVA APOIO.. ENTÃO... SINTO-ME FELIZ!!!!!!!!!! PQ... LÁ DENTRO DAS SUAS ETERNAS LEMBRANÇAS EU TEREI UM PEDAÇINHO SÓ MEU... E ORGULHOSA COM SUA FORMATURA ...
    BEIJOS.. AMO VC... GRAÇA

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  4. Márcia,emoção,foi o que senti ao ler o seu texto.
    Parabéns a você, seu filho e família.
    Que Deus continue lhe dando muita luz para que possa irradiar sobre nós a magnitude da sua vida.
    Abraços!

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