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28 setembro 2009

Sexualidade e paraplegia


Trago, hoje, parte de excelente artigo voltado à sexualidade das mulheres portadoras de paraplegia, como matéria de enfoque fundamental à auto estima e parâmetros de sexualidade da mulher, nessa qualidade, em vida ativa e feliz, que pode ser encontrado em sua íntegra no endereço eletrônico, abaixo indicado:


Acta Paulista de Enfermagem
Print version ISSN 0103-2100
Acta paul. enferm. vol.18 no.3 São Paulo July/Sept. 2005
doi: 10.1590/S0103-21002005000300005


Sexualidade e paraplegia: o dito, o explícito e o oculto

Inacia Sátiro Xavier de FrançaI; Adriana de Freitas ChavesII
IDoutora em Enfermagem; Professora Titular do Depto de Enfermagem da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB - Campina Grande (PB), Brasil
“Enfermeira”


RESUMO

INTRODUÇÃO: A intenção de contribuir para o desenvolvimento de ações educativas que desmistifiquem mitos e tabus relacionados à sexualidade da pessoa portadora de paraplegia e melhorar a qualidade de vida desse tipo de cliente motivou a seleção do objeto "sexualidade da mulher portadora de paraplegia".

OBJETIVO: Compreender a construção de sentidos das mulheres portadoras de paraplegia acerca da sexualidade e relatar as barreiras enfrentadas por estas mulheres para vivenciar sua sexualidade.

MÉTODO: Estudo descritivo onde os sujeitos foram selecionados por acessibilidade, conforme critérios pré-estabelecidos e, utilizando-se a entrevista semi-estruturada, a coleta de dados e a análise de discurso emergiram categorias.

RESULTADOS: As categorias sinalizaram o processo de negativação da auto-imagem, do auto-conceito e de tendência a auto-discriminação, além de culpabilização, quando da sensação de orgasmo. Também emergiram categorias sinalizadoras da crença no casamento monogâmico como realização pessoal, e que o orgasmo é uma questão de conhecimento do próprio corpo e do corpo do parceiro.

CONCLUSÕES: Conclui-se que o mito da beleza e o mito adâmico normatizam a sexualidade dos sujeitos. Mas nem todas as mulheres estudadas seguem, à risca, as regras da cultura, de modo que um grupo de mulheres portadoras de paraplegia vivencia a sexualidade de forma diferente das demais.


INTRODUÇÃO


O conceito sexualidade adquire conotações diversas e em conformidade com os significados e os sentidos que lhe são atribuídos pela cultura em que as pessoas estão inseridas. Para alguns autores a sexualidade envolve as atividades sexuais biológicas, o conceito que a pessoa tem sobre sua masculinidade ou feminilidade o que influencia o modo como a pessoa reage aos outros e como é percebida por eles(1). A tendência dos pensadores contemporâneos é considerar a sexualidade como um aspecto intrínseco do ser humano que é mais expressiva do que o ato sexual, pois inclui os componentes biológicos, sócio-culturais, psicológicos e éticos do comportamento sexual(2).

Em se tratando da Psicologia Analítica, os seus autores referem que a construção da identidade e as atitudes comportamentais das pessoas são orientadas pelos arquétipos que correspondem aos resquícios psicológicos de vivências fundamentais comuns aos seres humanos, que permanecem cristalizados no inconsciente coletivo e são repassados, indefinidamente, de geração para geração(3).

Para esses autores, a sexualidade humana, além de ser influenciada pelos arquétipos da anima e do animus, é orientada, também, pelo arquétipo Afrodite, a deusa do amor, que era adorada pelos gregos e romanos devido a sua beleza, ternura e voluptuosidade(3). A influência da estética nas relações amorosas fazia com que os gregos confeccionassem espartilhos, sutiãs meia-taça, cintas, enchimentos, modeladores, máscaras faciais e maquiagem para realçar a beleza feminina.A mulher regida pelo arquétipo Afrodite vivencia a sexualidade relacionando-se bem com os outros e especialmente com os homens(4).

A ideologia da beleza, inclusa no mito Afrodite, incute na mente de homens e mulheres que um corpo escultural é sinônimo de sensualidade e de competência sexual e que o seu poder de atração depende da sua plasticidade e da inexistência de um corpo mais encantador que o seu. Assim, aquelas pessoas que diferem do protótipo social de beleza física não são consideradas atraentes. Daí porque levantamos o pressuposto que as mulheres portadoras de paraplegia são tendenciosas a alienar o próprio corpo e a negar o prazer devido a sua aparência física e ao medo de uma intimidade maior.

As questões ligadas à sexualidade dos portadores de deficiência física extrapolam o campo social e se inserem na área da assistência em saúde. Por isso, buscamos publicações no campo da saúde voltadas para o tema "sexualidade humana". Percebemos que o número de publicações enfocando a sexualidade do homem portador de paraplegia é bem superior àquelas que retratam a sexualidade da mulher paraplégica o que reflete escassez de informação, no âmbito das instituições e dos profissionais de saúde, em especial aqueles da enfermagem, no que concerne à sexualidade feminina.

Pensamos que o fato dos estudos sobre a sexualidade masculina predominarem sobre aqueles que enfocam a sexualidade feminina decorre de várias causas: A sociedade dissemina o discurso da igualdade entre os sexos, mas permanece atuando nos moldes do "machismo". Nas décadas 80 e 90 do século passado os homens representavam a maioria dos pesquisadores sobre sexualidade. Outrossim, é de senso comum que, tanto no mundo como no Brasil, os dados demográficos apresentam uma relação de quatro homens para uma mulher o que contribui para que haja mais homens "estudados".

A intenção de contribuir para o desenvolvimento de ações educativas que desmistifiquem mitos e tabus relacionados a sexualidade da pessoa portadora de paraplegia e melhorar a qualidade de vida desse tipo de cliente motivou a seleção do objeto "sexualidade da mulher portadora de paraplegia". E a eleição dos objetivos: compreender a construção de sentidos das mulheres portadoras de paraplegia acerca da sexualidade e relatar as barreiras enfrentadas por estas mulheres para vivenciar sua sexualidade.


Postado por Márcia Vilarinho
28/09/2009

26 setembro 2009

Que saudade grande eu sinto de você


Destranquei o armário onde guardei minhas emoções pra não morrer com você e hoje seria, com certeza, dia de festa, com o eterno problema do bolo.
Que saudade grande eu sinto de você!

A vida nos fez aprendizes de verdade, quanta dor, quanta alegria, entre nós tudo ou foi salgado demais ou doce em demasia.
Que saudade grande eu sinto de você!

Das eternas brincadeiras, do bom humor, dos dias azuis, e dos cinzas também, nossos carinhos, nosso querer bem mais que querer bem.
Que saudade grande eu sempre sinto de você!

Das brigas e arrufos, das controversas
polêmicas, que terminavam em riso, porque você nunca deixou de ser Peter Pan e me fez Sininho eternamente.
Que saudade grande eu sinto de você!

Não pude chorar a sua partida, tão sofrida, e o vazio que ficou em mim está doendo pra sempre, muito mais do que tudo que me espatifou já doeu.
Que saudade grande eu sinto de você!

Eu olho pela janela da vida e revejo cada momento, que força precisamos ter, sem tréguas, um momento sequer, primeiro eu, depois você.
Que saudade grande eu sinto de você!

Trilhas na neve, nas montanhas, como dois apaixonados não só pela vida, senão um sempre pelo outro, desde o dia em que você me raptou pra si.
Que saudade grande,
Ka, eu sinto de você!

Era a partida, a despedida e o amor foi maior do que alguém conseguiu imaginar, juntos nas lágrimas profusas do chorar.
Que saudade
Ka, que saudade grande eu sinto de você!

Nossas músicas todas estão guardadas, longe daqui, porque eu não quero escutá-las sozinha, nunca mais, nunca mais.
Que saudade
Ka, que saudade grande eu sinto de você!

Tome, receba o abraço da minha alma que prometeu viver sempre sem se entristecer com a sua ida, e foi esse o seu último pedido, mas não dá.
Porque que saudade maior ainda
Ka, eu sinto de você!

Eu abri aquele armário onde guardei todas as emoções pra não morrer com você e tenho que o arrumar, porque as emoções não cabem mais nele.
De tanta e tamanha saudade que eu sinto de você!

Todas as minhas brincadeiras, minhas palhaçadas, minhas
pirraças, sempre zombeteiras pra que, ao final, você achasse graça.
Ka, é muito, muito grande a saudade que eu sinto de você.


E quando eu me lembro do caminhar, juntos, de mãos dadas pela praia, criando as nossas próprias sombras, formadas pelo por do sol, e tirando fotografia delas juntinhas como nós.
Ka, eu sinto muita, muita saudade de mim em você.

Hoje, Ka, especialmente hoje, nada me consola.
Porque é grande, muito grande, a saudade que eu sinto de você.

Márcia

25-09-2009

25 setembro 2009

Corpo e alma


Minha'alma retrata o meu rosto e corpo de cigana
No sonho que parece espaço etéreo e virtual
E que, no entanto, traz de real
As rodas do carroção
Transformadas em cadeira que transporta
A nova morada
semi-inerte
Que é apenas instrumento
Pra realizar as tarefas ditadas lá no além
Que com certeza vêm
Como segunda época
Na matéria sedução
E assim segue a cigana
E em seu intento
Continua no carroção
Só que a cigana se esconde
Na alma que habita o corpo
Mudo, em parte, na sua expressão
Vibra a cigana, entretanto
Em todo seu coração
A
intermitente
alegria e vida
Mais amor e liberdade
Muito além do tempo que marca a idade
Para toda e qualquer encarnação
Segue, cigana atrevida
A tua vida vivida nas marcas da contenção
E a tua vida vivendo na alma em ebulição
De maneira colossal
Toda a paixão ideal
Segue cigana atrevida
A estrada no carroção
Que quem lhe vê com os olhos
Não alcança o coração
Nem lhe sente a batida
Da alma que ali habita
E o faz ribombar em canção
Dualidade sentida
Extravasada e vivida
Na cigana em seu carroção


Márcia Vilarinho
25-09-2009



19 setembro 2009

Conversando com Genaura (http://genaura.blogspot.com)




No belíssimo texto expresso corajosa e sinceramente por você, sob o título “Noite de núpcias de uma paraplégica”, identifiquei-me, em muito, com o que você ali descreve, em tamanha força de realidade e emoção.

Na reflexão que ele gerou em mim, você é parâmetro que, finalmente, encontro para poder avaliar as atividades diárias dentro da limitação física, que igualmente se me apresentou como nova forma de sentir e conceber a vida, e, por isso, por primeiro, agradeço a oportunidade de havê-la como companheira de jornada, numa mesma época terrena, ainda que em Estados diferentes, com a possibilidade de trocar experiências, em todos os âmbitos, tão valiosas.

Encontrei, na web, várias reproduções de suas entrevistas, sobre praticamente todos os atos de vida diária, íntima, familiar, social e profissional, relatados com clareza espetacular, própria em pessoas capazes de observar, apreender, modificar, seguir adiante e ainda repartir seu aprendizado, com o forte intuito de dar a conhecer a tantos, em belíssimo exemplo de criatividade, a necessária reversão das adversidades que a vida traz a todos, em diferentes momentos, mais ainda, com toda a sua sensibilidade e capacidade de amor, entre outras.

Num país em que falar de sexo, já de per si, representa quebra de tabu dos mais arraigados, você demonstra coragem e garra, ao falar sobre uma subespécie desse mesmo tabu, que as pessoas imaginam não se quebra e que se refere à expressão dos sentimentos mais bonitos, reais e verdadeiros, através do sexo, praticado naturalmente pelas pessoas portadoras de quaisquer graus de deficiência física, quer sejam: os paraplégicos, os deficientes visuais, os que utilizam sapatos ortopédicos de quaisquer tipos, lentes de contato, dentaduras, perucas, óculos, órteses e próteses de outros gêneros, enfim, reporto-me, ainda, à gama infinita de situações físicas peculiares que não impedem essa natural expressão de vida terrena, própria aos seres vivos do planeta, para sua reprodução, bem como reprodução do amor, dia após dia, desde o início da vida, resumindo a real vitalidade em todas as suas concepções.

Restrinjo um pouco o assunto atividade sexual, para não enveredar pelas ruas tortuosas da polêmica, entendendo, aqui, por deficiência, aquela que atinge o corpo físico como um todo, ou a qualquer componente desse mesmo corpo físico, e que não incorre nas deficiências advindas da amplitude negativa da alma, ou do comportamento que negue qualquer princípio valorativo, social e/ou religioso, por bem diferentes do enfoque ora objetivado.

Irretocável e valiosíssimo, pois, o texto por você expresso, sob a ética do amor, que me permito comentar sob a luz de minha própria realidade, como paraplégica e cadeirante, aos 30 (trinta) anos de idade, que assim me tornei em função de um acidente automobilístico, numa das poucas vezes em que me vali de um táxi, sem que o motorista, que o dirigia, houvesse praticado qualquer infração, ou seja, aconteceu, na Av. Vinte e Três de Maio, às 13:00 horas, num dia do ano de 1980, e, em questão de segundos, espatifou a minha medula, seccionando-a; perfurou-me o pulmão e pleuras; causou hemorragia interna e me levou a um primeiro falso diagnóstico de óbito. Voltei a mim, fui atendida no Choque da Beneficência Portuguesa, um dos melhores da América Latina, haja vista que o acidente ocorreu quase em frente, e eis me aqui.

Nos momentos mais complicados do estado comatoso, um capítulo à parte que tenho buscado compreender através dos estudos cada vez mais profundos e cientificamente comprovados, referentes a EQM (Experiências de Quase Morte), lembro-me de pedir, fora do corpo, muito a Deus que me mantivesse viva, pois, à época dos fatos, casada há dois anos, com uma filhinha de 10 meses, argumentei com o Pai, talvez em oração, sobre a possibilidade, que Ele havia me permitido, de tê-la, de ser mãe, gerando-lhe, como se tecendo roupagem mágica, um corpo físico através de um grande amor realizado, e que se Ele me havia permitido tê-la que me permitisse, então, criá-la.

Lembro-me de vagar buscando, determinadamente, uma autorização para tal, e realmente a consegui. Vinte dias em coma absoluta se refizeram em VIDA e eu que adentrara o hospital em 10 de novembro de 1980, dele saí aos 20 de dezembro do mesmo ano, para poder comemorar o aniversário de meu pai, nesse mesmo dia, e o primeiro ano de nascimento de minha filha, presente de Natal, no dia 24 de dezembro de 1.979.

Meu marido, meu grande companheiro, desde então jamais me limitou à cadeira de rodas, transformando-a, muitas vezes em cadeira de rosas, e, ambos, a tornamos apenas um sapato diferente, que me tem permitido caminhar, desde então, participando da vida, repartindo potencialidades em aprendizado, rico de experiências e criatividade, de sorrisos, alegrias, questionamentos, enfrentamentos e amor, muito amor.

A primeira atitude racional, após a saída do Hospital, diante da análise, frente ao renascimento, foi reformar minha escala de valores e as metas profissionais, no auge da carreira, foram relegadas ao final da lista a serem retomadas, talvez, um dia, pois em primeiro lugar estava conhecer o que significava paraplegia, no dia a dia, como cuidar de minha filha, cuidar mesmo, em todos os sentidos, criando condições que, em outra oportunidade, retomarei o contar em história, fisioterapia, motorista particular e, de repente, eu que sofrera um acidente em mãos de terceiro, lá estava adaptando minha carteira de motorista, meu carro como extensão da cadeira de rodas, alargando minhas portas, minha vista, minha alma, e indo de encontro à VIDA, que eu agradecia, por haver pedido fosse mantida e aonde o pé não chegava a cadeira rodava, e onde ela não conseguia rodar, alguém a empurrava e quando nem mesmo empurrando se conseguia, eu ia no colo, mas ia.

Conheci a solidariedade dos transeuntes anônimos, em sem fim de pessoas incríveis, que me ajudaram, tantas vezes, pelas ruas e a quem agradeço todos os dias da minha vida, em prece especial. Aprendi que não somos ninguém sozinhos e que a vida é feita de soma, até quando dividimos.

Após sete anos de vida conjugal, plena, a lição conquistada esteve em observar e perceber que, muitas vezes, na relação sexual, a criatividade é fator preponderante, para o enriquecimento do prazer, dação, entrega, cumplicidade, expansão, compreensão, afago, ternura, amor em potencial, respeito e realização duplamente conquistada, em ritmo comum que se constrói para tal finalidade, transformando-se numa arte a ser expressa com as tintas e matizes mais bonitos de um verdadeiro vincular-se amoroso, que no meu caso, eclodiu, então, de maneira felicíssima, em gravidez.

De alto risco diziam alguns, como? - perguntavam outros, o certo é que foram nove meses de absoluta saúde em vida normal de atividades.

Só posso comprovar que, na hora do parto, eu soube exatamente o tempo de minhas contrações, através da pulsação, regularmente decrescente em minutos, na região do pescoço. O normal é não percebê-la, diante da concentração de dor na altura do útero. Mais uma vez o corpo respondeu, até pela paraplegia, de forma diferente da normalmente conhecida, suprindo a necessária atuação frente à vida, tanto quanto supre o desejo de nos realizarmos, em termos de expressão.

Assim nasceu o Tiago, explosão de amor perfeito, que se apresenta, em meu ventre, na foto a ilustrar essa nossa conversa, agora, já, com 22 anos de idade e a Graziela, minha primeira motivação de amor absolutamente eficaz, para pedir a Ele que me mantivesse viva, está com 29 anos de idade e casada.

Ele deu-me a mais linda resposta que poderia, eu não criaria apenas uma filha e sim dois filhos.

Valeu, por cada expressão de amor extravasada até pelo menor dos poros existentes em meu corpo, movida pela alma, e aceita por mim e pelo meu querido companheiro.

Que o seu texto, Genaura, realmente produza, ad eternum, o mesmo efeito, em tantos quanto estejam buscando parâmetros, para viver suas diferenças, pois, nós, por tudo o que pude conhecer de você, através de seus escritos, tivemos que criá-los, na força, garra, coragem, amor e fé, decorrentes do mais amplo e absoluto sentido do amor.

Márcia Vilarinho
18/09/2009

17 setembro 2009

Do passado para o presente


Desde a primeira célula, produzida pelo amor, até hoje eis me aqui proliferada, tanto em células como em amor.

Quantas alegrias e sorrisos, quantas pessoas amadas, que floriram as orlas do caminho e se projetaram em minha alma e coração, adentro para sempre, e, desde então, temos caminhado juntas, quer fisicamente, quer em vibrações. Nenhuma de nós se perdeu, nem na rota, nem na junção.

Infância e juventude felizes demais. Conhecimentos adquiridos. Valores assimilados. Brincadeiras de criança, como é gostoso lembrar! Corpo dançando livre, num ensaio, ao som de linda canção. Ah! Você meu primeiro namorado! Não me esqueci de você não! Época de sonhos e encantamento que resultaram passos de vida diária, que me fizeram chegar ao presente, assim, como estou, agora “evelhescente”, ainda com metas e sonhos diferentes em nova trilha para o futuro, que a estrada da vida é repleta de trilhas a serem exploradas e conhecidas, depois de muito bem avaliadas, que, a essas alturas do caminho, não se deve estar desavisado.

Neste momento, que não voltará mais, me despeço do hoje, acoplando toda a energia positiva que me trouxe de “presente” e enviando ao espaço, para a devida reciclagem, tudo aquilo que precise ser re-alinhado e se antes meu corpo dançava livre, num ensaio, ao som de linda canção, hoje é a alma que flutua e voa, ao som apenas da emoção.

Sou feliz, sabia, porque amanhã quando eu voltar, do passeio noturno pelo cosmos, ao abrir os olhos saberei que mais um presente chegará e o receberei curiosamente petiza.

E assim vou caminhando cada vez mais plena de vida e transformações até que me chegue a hora da última modificação e, com certeza, irei dançando em roupa de luz, costurada com os fios dourados do amor, da esperança, da fé, da coragem, da solidariedade, alegria e muito, mas muito, aprendizado capaz, transportando-me no rumo das estrelas para em outras trilhas novamente começar.

E enquanto o futuro não chega é hora, sempre hora, para abraçar cada um de todos aqueles que comigo companheiros.

S.P. 16/09/2009
Márcia Vilarinho

14 setembro 2009

Brisa e Ventania



Até o último momento a partida estava definida. Oportunidade. Alegria. Novidade. Mudança que quase se realiza, por plenamente formulada, formada, planejada, verificada e pronta, que ainda assim não permitiu deixar ao léu as situações novas que, surgidas num repente, se fizeram prioritárias.

Juntamente com tais situações eclodiu, ainda, o amor, forte, corajoso, meigo, pleno, consciente e total da ave que recolhe as asas para proteger o ninho, frente às intempéries do tempo, que me tornam brisa.

Minha jangada sairia ao mar. A alegre metade de mim se escondia da outra metade triste. Com a partida ficaria aqui o coração em plenitude, num sonho maior disseminado e perdido, mesmo sem antes ser vivido.

A jangada ao mar significa, para mim, a alma frente à amplidão que o mar expressa, traduzindo infinitas possibilidades de realização, mesmo que ao longe esteja a linha do horizonte, pois quando em mar aberto, suas laterais transcendem ao infinito e, nesses momentos, subjetiva e surrealista, sou ventania a varrer quaisquer impedimentos.

Sempre amei o mar. Ele é parte de mim, quando no movimento interno do meu corpo o sangue lhe imita o ir e vir, mantendo o universo do meu eu em equilíbrio e a superfície da minha pele transformada em orla sempre beijada pelas ondas da energia que cria, da mesma forma, o pensamento e a emoção.

Como ave recolhi as asas e impedi o movimento que me levaria para longe do meu coração, num procedimento racional pleno, produzido, elaborado, até na menor partícula de cada ato, porque o racional era o melhor timoneiro que conhecia até então.

A metade triste se fez, então, alegria, ao reconhecer como base fundamental da minha própria vida, da razão de ser, de estar, de vir, de vir novamente e ainda voltar, o ninho cuidadosamente construído. Mais ainda, porque deixaria, aqui, também o sonho, desses difíceis de sonhar, levando apenas a expressão belíssima de suas cores, para sempre, eternamente em mim.

Sem partida, me tornei, novamente, inteira e permaneço brisa e ventania, em busca de fazer tudo o que será um dia. Não trabalhará mais só, portanto, em mim, o timoneiro.

Márcia Vilarinho
S.P. 31/07/2009




12 setembro 2009

Descrevendo a vida através de um blog


PARA CARLOS ALBERTO LOPES


Daqui para a frente nossa conversa será diferente, ela se fará na sintonia da prece, na vibração direta dos pensamentos dirigidos a você; pelas violetas que colocaremos nas janelas.

Valeu a vida e os momentos positivos, que nos fizeram cada vez mais unidos.

Valeu a vida e os momentos difíceis, que fizeram o nosso aprendizado.

Valeu o amor, que mantém o vínculo inquebrantável, pelas encarnações afora.

Nesta mesma capela você iniciou a constituição de uma família e nesta mesma capela, agora, reiteramos a nossa união, você na pátria original e nós ainda no caminho.

Que possa haver ao seu redor muitos amigos, tantos ou mais do que os que você deixou aqui.

Que o brilho do sol seja ainda mais próximo e que cada estrela possa iluminar o seu cantinho.

Ficará a saudade, o respeito, o amor e a amizade, plasmando, pelo espaço afora a rota direta, a ligação que nunca se desfaz.

Fique tranqüilo companheiro, aproveite bem sua viagem e
nos aguarde, pois são apenas minutos os que fazem a eternidade e nós não lhe dizemos adeus, nós lhe dizemos apenas "até breve".

Márcia, Graziela, Tiago, parentes e amigos.

S.P. 05/02/1997

Toalha florida na mesa descolorida



Campos de verdume sem igual
Matizados em tons desiguais
Sons diversos
Pássaros aves
Pássaros de ferro
Em grandes passos
No infinito do espaço
Montes imensos
Montanhas recém nascidas
Dsgastadas e mortas
Ressequidas pelo tempo
Beijadas pelo vento
E em meio a isso
Cidade pequena
Interior do Estado
Lembranças do meu eu
Casa de meu avô
Tapera palácio rica em lembranças
Vazia e repleta de sentimentos
A mesa de madeira fosca
Onde nunca faltou o pão
A mesa isolada
A casa perdida
Eu parada
Parada no tempo
Correndo pelas recordações
Revendo a fisionomia triste
Da avó angelical que morreu
O rosto tristonho de minha mãe
Que se reascendeu na alegria
De um novo lar
A família unida na dor
A família unida no pranto
No pranto que todo mundo já esqueceu
Casa tapera
Palácio quimera
E sobre a mesa fosca
Um pedaço de tecido colorido
Toalha florida
Que alguém teceu
Toalha florida
Na mesa descolorida
Que a todo mundo serviu
Canto sonoro
Que hoje canto eu

Márcia.
S.P. 09/06/1970

Amo

Amo a flor pela pureza verídica de sua cor
Amo a pureza da criança, que ficou
Amo o pássaro que canta na árvore mais próxima
Amo a árvore amiga que me abriga
Amo a natureza e a tudo que criou
Amo a terra porque nela meu corpo descansou
Amo o sol, por causa do calor
Amo as pessoas porque sou fruto delas
Amo as sombras e a quietude
Amo a vida e portanto a plenitude
Amo a medicina por ser meu ideal
Amo os animais porque eles são fiéis
Amo o sonho, por nos permitir viver
Amo a poesia que é combate à hipocrisia
Amo a música por dar asas à imaginação
Amo a lira por ser tangente ao coração
Amo o dia pelo brilho do astro rei
Amo a noite com todas as estrelas
Amo o ar que respiramos juntos
Porque me torna parte integrante de você.


MÁRCIA.
S.P. 12/06/1968

09 setembro 2009

Alma Gêmea



"Alma gêmea de minh'alma,
Flor de luz da minha vida,
Sublime estrela caída
Das belezas da amplidão...
Quando eu errava no mundo,
Triste e só no meu caminho,
Chegaste, devagarinho,
E encheste o meu coração.

Vinhas na benção dos deuses,
Na divina claridade,
Tecer-me a felicidade
Em sorrisos de esplendor...
És meu tesouro infinito,
Juro-te eterna aliança,
Porque sou tua esperança,
Como és todo o meu amor!

Alma gêmea da minh'alma,
Se eu te perder, algum dia,
Serei a escura agonia
Da saudade nos seus véus...
Se um dia me abandonares,
Luz eterna dos meus amores,
Hei de esperar-te, entre as flores
Da claridade dos céus..."

Poema extraído do Livro "Há Dois Mil Anos", de autoria do Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier

07 setembro 2009

Alô Pais...Alô Mães....Alô Jovens!!!!



Em belíssima composição titulada “Como Nossos Pais”, Belchior descreve, com maestria, o ciclo histórico da humanidade, em que educação e valores sempre foram passados de pais para filhos, em mesmíssima forma, ao dizer que “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”.

Através deste texto, calcada na realidade histórica atual, lanço, a pensar e refletir, que não somos mais os mesmos e precisamos viver e andar com os nossos filhos, em nova partitura que a vida escreve a cada novo dia, um pouco mais.

Observo, inicialmente, que quando nossos filhos começam a andar nos apavoramos com as quedas, possíveis de acontecer, e nos tornamos suas verdadeiras sombras.

No entanto, eles estão aprendendo a andar e nós os estamos seguindo, na mais das vezes, com medo que caiam, pois, na verdade, ninguém ensina alguém a andar, haja vista que andar é possibilidade do ser, ou não, e não depende de aprendizado e sim de treino.

Minha primeira pergunta para a elaboração deste texto, que desejo escrever em conjunto com vocês, como eternos aprendizes que somos, é a seguinte: a observação acima está correta?

Em caso positivo, pais, como é que nos projetamos vida afora com nossos filhos? Até onde continuamos a fazê-lo através do medo?

Como isso chega para vocês, filhos? Isso também é causa para alguns de seus medos? Quais?

Será que não é o caso de revermos, desde a nossa infância, até onde o medo de cair, em pré-conceito, pode ter sido causa para que tivéssemos medo de dizer até aonde havíamos ido, impedindo assim a comunicação natural sobre as experiências de vida, que precisam, devem e podem ser partilhadas, independentemente da idade, se velhos ou jovens.

Entendo que ao nos ocuparmos em andar juntos, banindo a pré-ocupação com a queda, banido estará, por conseqüente, o medo, e com as mãos dadas se dará o treinamento para a aprendizagem do próprio caminhar
junto, quer com nossos pais, quer com nossos filhos, quer com cada ser humano em especial.
Márcia Vilarinho
S.P. 06/09/2009