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01 junho 2010

REMINISCÊNCIAS DO AVESSO

Viro-me para um lado e não encontro o outro. Não sei se é dia ou noite e carrego comigo , para onde vou, toda a estrutura do hospital.

De repente ele se abre para uma praia e lá estou. Horas outras ele se abre para uma varanda de uma fazenda da infância e lá estou no que restou.

Alguém me vira e parece que o mundo inteiro revira em mim, tamanha a sensação de torpor e de lonjura daquelas mãos que cuidam do meu corpo adormecida na inércia e dopado de medicação.

De repente pulo fora da gaiola e vou, voando rumo ao sol, um pouco mais à direita em prumo e sumo na imensidão.

Chego a um jardim em que me chama atenção a cascata de água transparente. Por trás dela conseguem se sobressair seixos de ônix, coloridos em matizes indescritíveis que colhem a minha leveza, porque meus olhos os conseguem acariciar.

Procuro, então, alvoroçada o Jardineiro Chefe do local e sento-me numa das cadeiras ao redor da mesa colossal, onde muitos estão em calma discussão. Alguém me cumprimenta e quando vejo, é você Ka, que está a me falar. Você que em egípcio quer dizer alma. Você que em vida foi realmente Ka. Amor eterno em eterna plenitude, foi, é, sempre será.

Faço um discurso curto de apresentação e digo que tenho pressa, pois meu corpo me espera, e não estou em quimera, e para ele quero voltar, para atender os desígnios que o Sr. Jardineiro permitiu fossem sementes em mim e que, agora em flores, ainda precisam que eu, ao exemplo do Sr., lhes cuide com amor o jardim, onde enraizados estão em plena expansão.

Grande murmúrio e muita troca de olhares com lindos raios de amor se projetando dos corações sobre mim. Somente então vi que andava.

E quanto mais o amor me tocava, vindo daqui e dali, mais leve eu me sentia, e volitando voava rumo ao retorno do caminho, sem dúvidas de qualquer espécie, agradecida em prece, segura num par de asas, que então me carregava assim.

Era meu anjo da guarda e nunca mais o esquecerei.

Antes de retornarmos nos sentamos junto à relva e ali adormecemos, tonificados pela seiva que das raízes do todo lançavam energia em mim.

Depois junto à orla do mar novamente me devolveram o cordão de prata que me une ao aqui e lá, e o iodo que do oceano chegava fartamente me recuperava.

Passei, antes por minha casa, pra ver se tudo estava no lugar.

Quando acordei, alguém me disse suavemente que eu vivera o retorno e foi assim que acordei..... do coma.

Criado, vivido e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

3 comentários:

  1. Que poética do coma que viveu. Deve ser uma explosão de sentimentos. Perfeito texto, querida Márcia. Tenha um bom dia, uma boa semana, beijos ;)

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  2. Márcia, digo lhe em verdade que não disponho de palavras para discorrer sobre tal maravilhoso texto.
    Ele intenso como sí só nos deixa calados, admirados e conscientes de que somos muito pouco de tudo aquilo que podemos em verdade ser.

    Beijos, adorei, amei...
    Uma ótima semana.

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  3. Minha querida
    muito intenso e profundo o seu texto, não se consegue comentar o que não se viveu, mas é muito belo.

    Beijinhos com carinho
    Sonhadora

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