Nasceram juntos, num mesmo dia, há muitos e muitos anos, na terra, humanizados e donos de especial junção, o Sol e a Lua.
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Dizem, mais, que a Lua, então, chorosa sem qualquer temor, em coração aberto, passou a sentir o frio gélido da distância, perdendo aos poucos praticamente todo o seu brilho e volitou procurando um pouco de luz e calor, e tão alto subiu, que à terra nunca mais voltou e desde então recebe apenas o generoso reflexo da luz do sol sobre seu corpo inerte, para vencer a escuridão que a tomou, e com os olhos baixos pelos vulcões da terra e nas fogueiras que se acendem ao longe, a identificação do fogo que arde em seu coração, a faz magia e animus para os poetas, e mesmo nas luzes de neon ainda que sejam as cores desmaiadas da amizade, reflete as sombras de todos os seus vãos mistérios.
E diz a lenda que assim permanecerão mudos e distantes até o dia em que as portas do tempo consigam ser abertas para que o sol baixando à terra ao reproduzir sobre a lua a sua generosa e emprestada luz seja capaz de fazer com que ela o siga, e, então, voltarão a ser humanizados nos rincões da terra, dentro de uma nova evolução.
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E nesse dia, talvez, os terráqueos tenham se mudado para o espaço....
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Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
Da série "Distâncias"