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30 janeiro 2013

A torre

Separou
Como se fosse o joio do trigo
Se ausentou
Premeditada e exatamente
No momento
Que melhor se ofertou
Não atendeu
Não entendeu
Nem respondeu
Nada falou
Nem explicou
Só decretou
Se escondeu
Não conviveu
Não elegeu
Não cultivou
Nem esqueceu
Nem se lembrou
Se ocultou
Desapareceu
E então estranhou
Quando não foi reconhecido
Na própria paragem que criou
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
Da Série "Momentos"

24 janeiro 2013

Corpos

Corpos são máscaras
Escolhidas
Ajustadas
Vestidas
Para o grande baile
Da vida...
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
Da série “Movimentos”
 

23 janeiro 2013

Estações da vida

I-   Da Estação das Flores ao Tórrido Verão

Quantos estigmas
Quantas amarras
Quantos chavões
Segui a Bíblia
Casamento é procriação
Casei-me por amor
Fomos amigos
Companheiros
Amantes
Cúmplices
Mestre e professor
Reciprocamente
Eternamente
Enquanto durou

II – Da Estação das Chuvas ao Outono

Depois o vazio...
A viuvez esvaziou
O teu olhar no meu
Mas não o meu coração
Veio a luta
A sobrevivência
O manter do ninho
Nossos filhos...
Inteiramente meus
Pequenos pássaros
Pra aprenderem a voar
Vida afora
E sobreviver...
E então eles voaram

III – Do  Estação do Ameno Verão à Etérea Primavera

E as minhas asas
Já meio cansadas
Mais que nunca
Precisavam descansar
E o ninho serenou
E a luta então passou
Como passa a tempestade
E de novo o céu azul ficou
E então uma amizade
Serena em amor é tudo o que bastou
Mãos dadas sem algemas
Corpos juntos na caminhada
Ninhos nichos em árvores separadas

IV – Da Estação Real do Ser

E um voar perto
Com asas repartidas
Assim tão destemidas
Fazem o nosso hoje bem melhor
Sem estigmas
Sem promessas
E em espontânea doçura
Sinceramente meu
Sinceramente tua
Em ventura
Sem prisão
E eu amo
Essa sutileza
De cada novo dia
                            .            .                          
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
Da Série “Movimentos”

20 janeiro 2013

O coma

Na bifurcação
Da rota
Na dissociação
Da química
Na cavalgada
Fora da relva
No despir-se
E ser tão nua
No falar
Em brado
De calmaria
Que ninguém
Do lado de lá
Do espelho
E  quase ninguém
Do lado de cá da vida
Consegue entender
Nesse exato ponto
Está o coma
Na fragmentação do eu
Que no último momento
Se agarra ao vínculo
Luminoso
Que se mostra
E em que nunca houve mágoa
De qualquer teor
A buscar
Então no “Amor”
A possibilidade
De refazer o caminho
E com autorização
Voltar
E sem autorização
Partir
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
Da série "Momentos"
.
Durante anos tentei explicar "O Coma" e agora, num só momento, o defini. 

18 janeiro 2013

Potencial amor

Pela Janela
O brilho da lua fulgura
E em nossos olhos
A luz das estrelas reinaugura
Todo o potencial amor
Que se esvai em ternura
Desejo em turbilhão
Em ondas de emoção
E do exaurimento
À exaustão
O abandono
Lado a lado
Abraçados
Apenas pelas mãos dadas
E do sonho reflexo
Relaxado da paixão
Do torpor
Ao despertar
O acender de velas
E a tepidez da água
A nos manter
Completos
.
Da série “Momentos”
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes 
 

14 janeiro 2013

Desejo

Desejo de te encontrar
Sentarmos frente a frente
Num local ideal
E conversarmos
Como dois irmãos
Dois amigos
Dois colegas
Dois amores
Dois cúmplices
Em risos
Em soma
Em confidências
Em planos
De vidas unas
Esgotadas
Em escassez de palavras
E tão forte vibração
D’alma
.
Desejo de te pedir
Pra sair
E encontrarmos uma cachoeira
De palavras
A desembocarem num manso rio
De olhares
Travessos e libertos
De qualquer contenção
A buscar as flores das sementes
Desse tudo e nada que plantamos
Nos dourados anos
Que passaram tão rápido
Como os gorjeios
Da passarada
Em cujas asas abertas
Voam os minutos
Desse tempo
Nesse nosso mundo
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
Da série "Momentos"

01 janeiro 2013

O seu olhar que o meu olhar imanta

Assim como o sol fita a terra
Você me fita em brilho que acelera
Todo o calor do sentimento
Que faz nosso este momento
 .
E estar livre como a onda do mar
Que chega ao colo que me encerra
É ser tatuagem da natureza ao ar
Que inspirado me desenha no seu ser
.
E no beijo assim adocicado
E no carinho que crepita
A penumbra chega e alimenta
O nosso sonho ainda inacabado
.
E a cortina tênue que a lua descortina
Nesse mesmo mar que acalanta
É como cumplicidade que ilumina
O seu olhar que o meu olhar imanta
.
E a melodia assim delira
Fazendo de minha alma sua musa
No prazer que acirra
E ao mesmo tempo se mantém
.
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
Série "Momentos"
02/01/2013